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The Night Manager: Entrevista com Tom Hiddleston

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Tom Hiddleston protagoniza a série The Night Manager junto a Hugh Laurie. Os dois atores britânicos contam a história de Jonathan Pine e Richard Roper – e Hiddleston trará para as telas sua versão de Jonathan Pine diretamente do livro de John Le Carre.

Você poderia começar por contar-nos a respeito do seu personagem em The Night Manager?

Faço o papel de Jonathan Pine que, no início da história, é uma alma perdida. Ele é o gerente do turno da noite de um hotel de 5 estrelas na estância de esqui de Zermatt nos alpes suíços e vive uma vida quase monástica, literal e figurativamente enterrado na neve, no silêncio e na escuridão. Penso que ele seja um mistério para todos e para si mesmo – o uniforme e o rosto que ele prepara para interagir com outras pessoas é uma máscara que o protege de ter que saber quem realmente é. Atrás de um terno impecável de três peças, gravata impecável, sapatos pretos polidos e maneiras impecáveis, ele quase não tem caráter porque está cheio de culpa e vergonha por causa do que aconteceu em seu passado. Ele é um ex-soldado que serviu duas vezes no Iraque, de modo que embora já tenha deixado as forças armadas, ainda é um militar – ele está apenas servindo agora no hotel em vez de no exército.

O que o atraiu para este emocionante projeto?

Recebi de meu agente em Londres o primeiro episódio. Ele me disse que Simon e Stephen Cornwell – filhos de John le Carré – estavam vendo quem poderia estar interessado em uma adaptação televisiva de The Night Manager. Li o primeiro episódio e, desde o início, fiquei completamente ligado na história e no personagem. Eu me apaixonei imediatamente por ele.

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Você já estava familiarizado com o romance antes de se envolver nesse drama?

Eu nunca havia lido o romance, mas, assim que li o roteiro, procurei o livro. Acho que John Le Carré ocupa uma posição única na literatura e na contação de histórias britânicas. Acho que ele tem um conhecimento único sobre o assunto, uma vez que – como dizem – ele mesmo fez parte do circo. Ele é um contador de histórias profundamente dotado e um mestre de sua arte, o thriller de espionagem. Penso que a o motivo de qualquer ator ser atraído para uma adaptação de seu material são os personagens, que são incrivelmente complexos, incrivelmente ricos e tão surpreendentes e contraditórios como as pessoas reais.

O que o atraiu mais no personagem Jonathan Pine?

O personagem me atraiu porque eu sabia que, como ator, eu teria de operar no nível mais alto da minha capacidade intelectual e física, porque ele é um agente de campo, mas também tem que ser inteligente o suficiente para viver disfarçado. Sua nobreza, coragem e moral são muito atraentes – ele é, na verdade, um personagem muito moral e está repleto da própria autoridade moral de le Carré sobre o mundo. Existe uma certa linha que você pode sentir por baixo de toda a obra de le Carré, que é uma fundação moral muito robusta: a crença no certo e o errado; na decência e no seu oposto.

Esta é uma produção épica com uma incrível quantidade de locais. Você poderia falar a respeito de alguns dos locais que visitou durante esta produção?

Os locais são realmente incríveis. Esta história tem uma enorme escala e ambição e os locais em que estivemos acrescentaram muita textura a ela. Como narrativa, The Night Manager tem essa incrível amplitude internacional, saltando do Cairo na primavera árabe para os Alpes suíços, Londres e Devon. No livro, existem cenas nas Bahamas e em Chipre, mas em nossa história elas passaram a ser em Mallorca, na fronteira turco-síria, em Istambul e em Mônaco. Muitas vezes eu aparecia no set e tinha uma sensação muito reconfortante porque a minha imaginação não precisava fornecer qualquer outra coisa, já que eu havia sido colocado imediatamente em um contexto completamente crível de onde o personagem está. Cada local foi tão impecavelmente concebido e tão corretamente escolhido, que muitas vezes nos deixavam de boca aberta.

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O que a diretora premiada com o Oscar Susanne Bier trouxe para o projeto?

Susanne é uma cruzada pela verdade e possui uma bússola extraordinariamente rigorosa para o que parece ser natural e plausível para uma narrativa sequencial. Acho que nunca trabalhei com um diretor que tivesse uma autoridade tão incrivelmente instintiva sobre o que permitirá em termos do que acredita, o que é extremamente importante em uma história como esta. É muito fácil em um drama de espionagem – ou em qualquer coisa que requeira uma coesão processual – para as pessoas fazerem concessões porque aquilo possa ficar bom ou mais fácil para o cronograma. A desculpa é que o público não vai notar, mas o público vai notar, e ela também. Com Susanne, a costura é tão fina e intrincada que não existem brechas nem pontos difusos na trama – ela não deixa passar nada e é incrivelmente rigorosa a respeito da história e de juntar as peças do quebra-cabeça de forma adequada, para que ele realmente funcione como uma narrativa.

Por que Pine se sente compelido a ajudar Burr e arriscar a sua vida, operando disfarçado para expor Roper?

Eu acho que Jonathan está à procura de uma razão para viver. Claro, ele está fisicamente vivo e tem um emprego, mas está escondido em uma montanha na Suíça, trabalhando à noite em um hotel. Não acho que seja uma vocação, acho que seja um conforto, porque a disciplina e a paciência exigidas soam familiares para ele, de seus dias no exército. Quando Burr encontra Pine, ela desperta no âmago dele algo que está dormente há algum tempo – que, penso eu, sejam a sua fibra moral e sua raiva. É uma raiva moral que é compartilhada, pelo que sei, por John le Carré, da existência de pessoas que fazem coisas neste mundo que devem ser interrompidas. E que de alguma forma ele se sente corajoso o suficiente para enfrentar.

O que você nos pode dizer a respeito de Richard Roper?  

Richard Roper vive uma vida muito luxuosa e atraente que é financiada por receitas de negócios com armas para quem der o maior lance. Ele vive essa vida extraordinária de jatos particulares, iates privados e casas na região do Mediterrâneo. Penso que Roper seja atraído por Pine porque eles são bastante semelhantes de muitas maneiras. Acho que existe uma coisa que muitas vezes permeia as obras de le Carré, que talvez seja uma característica específica de ser inglês – uma estrutura comum de referências, um senso de humor e uma compreensão do mundo – que muitas vezes vem à tona.

Roper é um inglês muito charmoso, muito carismático, afável, engraçado, caloroso, inteligente, sofisticado. Alguém cujas histórias você quer ouvir, que é um fantástico convidado para uma festa, um fluente e charmoso orador público e tem um enorme poder para o bem. Usar esse poder para o mal é o motivo pelo qual Le Carré – e, por sua vez, Pine – o odeiam tanto.